2010(e)ko abenduaren 14(a), asteartea

MODINHAS ANTIGAS...entrevista Tomé Feteira

Que tipo de educação recebeu do seu pai?
O meu pai cuidava dos seus 12 filhos com uma certa rigidez. Como era dantes! Obri­gou-nos a andar descalços até aos quatro anos.
Andar calçados só era permitido ao do­mingo. Dizia que andar em contacto com a terra fazia bem. Isto passou-se na Viei­ra, onde nasci.
Começou a ensinar-me a ler aos 3 anos. Ainda era uma criança e já lia o jornal para o meu pai.
Saía da escola primária e ia tomar banho para o rio Lis.
Naquele tempo o Lis não era poluído. Aprendi a nadar muito cedo.
Che­guei a nadar durante duas horas sem ir a terra. Esse exercício físico revelou-se im­por­­tante ao longo da minha vida. O meu pai foi sempre monárquico. Eu tinha um irmão, o Raul, que era republicano, apoiante do António José de Almeida.
Discutiam política e outras coisas. Eu ouvia. Isso traduziu- -se, em mim, num certo saber. 4
E tanto assim foi que quando entrei no liceu aquilo não foi nada para mim.


Recorda-se de algum professor?
Um dos meus professores era o pai do José Hermano Saraiva, aquele que faz programas de televisão sobre História de Por­tugal. O seu irmão, o António José Sa­rai­va, foi um homem notável, um grande escritor. Deixou de ser comunista depois de ter feito uma viagem à Rússia.
Entretanto, disse à minha mãe que queria ser oficial do exército. Isto aconteceu, em 1917, quando Portugal entrou na Grande Guerra Mundial. Tinha 15 anos. A minha mãe ficou aflita. Mandou--me falar com o meu pai. Lembro-me perfeitamente de ter dito que não. Era o medo, o respeito... Andei três dias a ganhar coragem para falar com o meu pai.

E falou?
Ao fim de três dias, depois de ganhar cora­gem, fui ter com o meu pai. - O que é que o senhor deseja? -, perguntou, tratando- -me por senhor. - Nada, respondi. - Nada? O senhor gasta uma imensidade de latim para não querer nada? - Bem... queria que o pai assinasse isto. - É só? - É só. - Vou buscar a pena. A pena era a caneta daquela época. Apareceu com umas cordas dobradas. Dizia que com aquilo os ossos não quebravam...